JEJUADOR ABERRANTE DA ARTE: A IMPORTÂNCIA DE CONQUISTAR A REALIDADE QUE É NOSSA
Autores
Karoliny Flor
UFRJ
Resumo
No conto o artista da fome, Kafka fala do artista enquanto jejuador, e diante de toda a vigia é o único que poderia ser espectador totalmente satisfeito do próprio jejum. Portanto, o artista fica durante quarenta dias sem comer e sua privação se transfigura em glória de continuar se privando, a fim de com paciência superar a si mesmo. A multidão não mais se interessa pelo artista e no fim de sua vida ninguém mais contava seu desempenho ao longo dos dias.
O conto se assemelha aos movimentos aberrantes que socialmente faz morrer o que não é necessário para a potência da vida, sendo assim, ser artista é ser jejuador aberrante e estar na linha tênue, algo que para Deleuze é a vida que implica a morte de algo dentro de cada pessoa para que a vida seja liberada, é saber morrer em vida. Uma vida que contagia a maneira de pensar em perspectiva animada, de modo que a presença seja contágio
Portanto, não basta apenas resistir por meio de linhas de fuga, mas como ser capaz de pensar, imaginar, sonhar e criar? A arte na maneira de ser não se apresenta de maneira oposta do mais cotidiano, mas sim pensar em pleroma, cuja plenitude do mundo se enriquece a cada novo gesto. Dessa maneira, torna-se mais real a existência da qual temos direito de legitimar nossa presença, sendo assim, a experiência artística tem uma intensa relação social.
O artista da fome representa a animalidade e a corporeidade a qual nos conectamos com a arte, sendo por meio do divertimento, do riso, e do prazer carnal. Nenhuma pretensão de divinação ou criação, mas a pura presença com a qual o jejuador pacientemente se coloca sob o olhar da multidão, sem legitimidade social por meio do sublime, de acordo com Kafka, resta a confirmação de sua existência e a conquista da realidade que lhe falta. Fazendo do corpo o palco para a ocupação da arte de existir.