O Corpolítico entre um voo rasante e um voo potente - Breve laboratório de destroços e afetos
Keywords:
PerformanceAbstract
O texto busca apresentar a leitura do momento de crise política enquanto gatilho deflagrador de narrativas possíveis a partir da afetação do ator criador em sua corporeidade. Essa afetação é pensada numa fricção teórica com a fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty e da utilização de novos conceitos, como corpolítco e corpovocal, pela identificação de um lugar de falaque é também um lugar materializável nos processos de criação narrativa. Neste sentido, a autora apresenta sua experiência na condução do Laboratório de Afetos: prática traçada como resistência artístico-política, aludindo à expressão “sobrevivência dos vagalumes”, cunhada por Pasolini e revisitada por Didi Huberman, na provocação de que o homem contemporâneo seja, talvez, como vagalumes em busca de uma reconfiguração do presente e do futuro a partir de suas próprias práticas capazes de inclui-lo no jogo político-artítico-“ardente” (ainda tomando emprestado deste último autor a ideia das imagens quando tocam o “real”). A prática criativa aqui referida (Laboratório de Afetos) valeu-se da metodologia de um processo à deriva nas ruas do Rio de Janeiro, que busca, nesta estética urbana, imagens da degradação da sociedade contemporânea. Assim, surge no processo a alegoria dos pombos, que, registrados em imagens e sonoridades, representam os excessos e demências de uma sociedade-lixo. Talvez o racionalismo abstrato do século XX tenha empombado no século XXI. O corpo sensível, que é o artista no mundo, afetado pela crise (política, social, ambiental...) carrega em si sua potência nestes atravessamentos. Trata-se de um corpolítico, que carrega um enunciado, e, posto em processo de criação narrativa, imprime seu discurso, capaz de propor narrativas de novos afetos e (r)existências.References
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