A apropriação dos espaços da cena contemporânea pelos “corpos loucos”

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Resumo

O presente artigo é uma reflexão sobre a apropriação dos espaços da cena contemporânea por “corpos loucos” realizada a partir de duas pesquisas, uma de mestrado e outra de doutorado, em curso. Inicialmente, apresenta-se um panorama de experiências criativas sistematizadas e encontradas tanto no Banco de Teses da CAPES quanto em textos de grupos artísticos que trabalham nessa perspectiva em diferentes capitais brasileiras, e fora do ambiente acadêmico. Tal apanhado permite, em seguida, identificar poéticas e perspectivas teóricas segundo as quais o corpo desses sujeitos é percebido e trabalhado. Por último, apresenta-se um recorte da experiência de um grupo de teatro baiano Os Insênicos, composto por atores, que são usuários de serviços de saúde mental. Como resultados preliminares, é possível constatar o rompimento dos espaços habituais de cuidado e acolhimento por parte desses grupos artísticos, tomando espaços cênicos das cidades para dar visibilidade a suas produções, numa atitude crítica sobre modos de criação, vidas e corpos não hegemônicos. Em implicação direta com a criação de projetos poéticos autorais, esses atores e atrizes, ao tempo em que esgarçam a cena contemporânea, ressignificam as artes do corpo pelo viés simbólico e estético com suas dinâmicas e reinvenções internas. Os “corpos loucos” demonstram, em cena e fora dela, a possibilidade de desconstrução da corporeidade docilizada, a construção de liberdade poética na existência e da autonomia cidadã. As técnicas utilizadas pelas direções dos espetáculos visam criar oportunidades para que corpos desejantes e desviantes apresentem suas visões e necessidades outras, cenicamente, num movimento duplo de observação e proposição, respeitando e incluindo memórias afetivas, afetadas e incorporadas, no interior de uma sociedade altamente institucionalizada.Palavras-chave: Interface artes-saúde mental. Processo Criativo em artes cênicas. Corpos Loucos. ABSTRACT The present article is a reflection on the appropriation of spaces in the contemporary scene by "crazy bodies" made out of two studies, one masters and another a doctorate, in progress. Initially, we present a panorama of creative experiences systematized and found both in the Bank of Theses of CAPES and in texts of artistic groups that work in this perspective in different Brazilian capitals, and outside the academic environment. Such a survey allows us to identify poetics and theoretical perspectives according to which the body of these subjects is perceived and worked. Finally, we present a review of the experience of a Bahian theater group Os Insênicos, composed of actors who are users of mental health services. As preliminary results, it is possible to observe the disruption of the usual spaces of care and welcome by these artistic groups, taking out scenic spaces of the cities to give visibility to their productions, in a critical attitude about modes of creation, lives and non-hegemonic bodies. In direct implication with the creation of poetic copyright projects, these actors and actresses, at the same time as they smash the contemporary scene, re-signify the arts of the body through their symbolic and aesthetic bias with their dynamics and internal reinventions. The "crazy bodies" demonstrate, in and out of the scene, the possibility of deconstruction of the docile corporeity, the construction of poetic freedom in the existence and the citizen autonomy. The techniques used by the directions of the spectacles are intended to create opportunities for desirous and deviant bodies to present their other visions and needs, scenically, in a double movement of observation and proposition, respecting and including affective memories, affected and incorporated within a highly institutionalized society.Keywords: Interface arts-mental health. Creative process in performing arts. Crazy bodies.

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16-10-2019

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