Escritura corpofídica: um dispositivo para pensar pesquisas poéticas em artes

Resumo

Este artigo cartografa compreensões acerca de dispositivos para pensar a pesquisa em arte, como forças que auxiliam o processo de criação do artista-pesquisador, seja em cena, seja no ato teórico. Tais dispositivos têm sido experimentados nas disciplinas Movimento Criador do Ato Teórico e Atos de Escritura, do Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará. Discutimos um dispositivo inventado como mapa de uma pesquisa poética de doutorado em Artes, que surge como desdobramento daquelas disciplinas, atravessado pela imagem-força da cobra e pelas epistemologias xamânicas amazônicas. Tal dispositivo acompanha as autoras no pensamento que orienta e é provocado pela criação cênica em devir e é denominado de Escritura Corpofídica. Enquanto pesquisa, o espetáculo em processo de criação opera com conceitos, noções e outras intensidades, com interferência direta no corpo e a partir do corpo da atriz-pesquisadora, tornando o dispositivo uma espécie de escritura da poética em acontecimento, a partir do desenho dessas interferências sob a forma de grafismos no corpo-cobra da atriz. A Escritura Corpofídica é movente, efêmera, como o próprio teatro. Modifica-se conforme rasteja por entre diferentes momentos e usos na criação, mapeando as composições de cada cena, as sensações corpóreas da atriz, a concepção visual, entre outros, compondo uma série de mapas do processo de criação, como um memorial gráfico, uma escritura cênica outra, que é obra sobre obra poética. Ao discutir esse dispositivo em um processo de pesquisa e criação específico, as autoras compartilham seu pensamento criador, deixando-o disponível como possível força a atuar noutras pesquisas em Arte, principalmente pesquisas poéticas.